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HISTÓRIAS DA PEQUENA ÁFRICA - Carta de Lynch

Nossa coluna hoje não contará uma história que aconteceu na Pequena África. Porém tem total ligação com o legado afrodescendente herdado por nós. Esse texto fará você refletir sobre o que nos vem sendo ensinado a gerações. Podemos também ver o reflexo dessa carta na relação entre boa parte dos negros brasileiros que ainda não se reconhecem como "irmãos". Pra nós, o fator miscigenação complica ainda mais. Que possamos pelo menos nos ver enquanto "povo". Povo esse, que deve estar unido contra as injustiças sociais.

Neste texto vemos um método de controle de escravos utilizado há quase 300 anos. Sua eficácia parece ter sido realmente comprovada. ATÉ QUANDO?

Esse discurso foi pronunciado por um escravagista europeu, William Lynch, em 1712. Ele fora convidado a apresentar uma nova técnica de controle dos africanos deportados para os Estados Unidos, que se revoltavam cada dia, criando problemas para os negócios. William Lynch, pela sua competência e expertise, se tornou um consultor no assunto.

Virginia, 1712.

Senhores:

Eu saúdo vocês, aqui presentes nas beiras do Rio James, no ano de 1712 do nosso Senhor. Primeiro, devo agradecer a vocês, senhores da colônia da Virgínia, por me trazerem aqui. Estou aqui para ajudá-los a resolver alguns dos seus problemas com escravos. O convite de vocês chegou até a mim, lá na minha modesta plantação nas Indias do Oeste onde experimentei alguns mais novos, e outros ainda velhos, métodos de controle de escravos. A Antiga Roma nos invejaria se o meu programa fosse implementado. Assim que o nosso navio passou ao sul do Rio James, nome do nosso ilustre Rei, eu vi o suficiente para saber que o problemas de vocês não é único.

Enquanto Roma usava cordas e madeira para crucificar grande número de corpos humanos pelas velhas estradas, vocês aqui usam as árvores e cordas. Eu vi um corpo de um escravo morto balançando em um galho de árvore a algumas milhas daqui. Vocês não estão só perdendo estoques valiosos nesses enforcamentos, estão tendo também levantes, escravos fugindo, suas colheitas são deixadas no campo tempo demais para um lucro máximo, vocês sofrem incêndios ocasionais, seus animais são mortos. Senhores! Vocês conhecem seus problemas; eu não estou aqui para enumerá-los, mas para ajudar a resolvê-los!

Tenho comigo um método de controle de escravos negros. Eu garanto que se você implementar da maneira certa, controlará os escravos no mínimo durante 300 anos. Meu método é simples e todos os membros da família e empregados brancos podem usá-lo. Eu seleciono um número de diferenças existentes entre os escravos; eu pego essas diferenças e as faço ficarem maiores, exagero-as.

Então eu uso o medo, a desconfiança, a inveja, para controlá-los. Eu usei esse método na minha fazenda e funcionou; não somente lá mas em todo o Sul.

Pegue uma pequena e simples lista de diferenças e pense sobre elas. Na primeira linha da minha lista está “Idade”, mas isso só porque começa com a letra “A”. A segunda linha, coloquei “Cor” ou “Nuances”. Há ainda, “inteligência”, “tamanho”, “sexo”, “tamanho da plantação”, “status da plantação”, “atitude do dono”, “se mora no vale ou no morro”, “Leste ou Oeste”, “norte ou sul”, se tem “cabelo liso ou crespo”, se é “alto ou baixo”.

Agora que você tem uma lista de diferenças, eu darei umas instruções, mas antes, eu devo assegurar que a desconfiança é mais forte do que a confiança e que a inveja é mais forte do que a adulação, o respeito e a admiração.

O escravo negro, após receber esse endoutrinamento ou lavagem cerebral, perpetuará ele mesmo, e desenvolverá esses sentimentos, que influenciarão seu comportamento durante centenas, até milhares de anos, sem que precisemos voltar a intervir. A sua submissão à nós e à nossa civilização será não somente total, mas também profunda e durável.

Não se esqueçam que vocês devem colocar o velho negro contra o jovem negro. E o jovem negro contra o velho negro. Vocês devem jogar o negro de pele escura contra o de pele clara. E o de pele clara contra o de pele escura. O homem negro contra a mulher negra. É necessário que os escravos confiem e dependam de NÓS. Eles devem amar, respeitar e confiar somente em nós.

Senhores, essas dicas são as chaves para controlá-los, usem-nas. Façam com que as suas esposas, filhos e empregados brancos também as utilizem. Nunca percam uma oportunidade.

Meu plano é garantido e a boa coisa nisso é que se utilizado intensamente durante um ano, os escravos por eles mesmos acentuarão ainda mais essas oposições e nunca mais terão confiança em si mesmos, o que garantirá uma dominação quase eterna sobre eles.

Obrigado, senhores.

William Lynch

Texto: Sami Brasil

Fonte: Portal Géledes

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