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HISTÓRIAS DA PEQUENA ÁFRICA - A Cidade Negra

Relações de compadrio, fraternidade, ou "parentesco de nação", eram elementos importantes para os africanos escolherem seus lugares de moradia. A Pequena África guardava todas estas qualidades: uma região com densa população africana, de todas as "nações" desde bastante tempo; não era uma área de residência disputada pelas camadas médias ou vítima de mudanças urbanas; e os preços eram baixos o suficiente para trabalhadores urbanos pobres, que viviam nos interstícios de uma economia industrial em crescimento. E, talvez mais importante, uma intrincada rede de ruas estreitas, becos, vielas e morros, dificultando o controle do tecido urbano pelo aparato policial. E, no campo do simbólico, o local de chegada de muitos, e talvez lugar do sonho do retorno à terra natal...Uma misteriosa comunidade começa a tomar forma na Pequena África carioca no final do século XIX os cabo-verdianos. Eles não se confundiam nem com os escravos e nem com os libertos, pois eram livres e nunca foram alforriados, eles não passaram pelo tráfico, extinto em 1850. Esta comunidade aumentaria muito nos anos seguintes, ao contrários das outras "nações" que definhavam rapidamente. A sobrevivência é uma luta diária que exige ainda muita coragem, mas também esperteza pra não cair nas garras da onipresente polícia. A crônica policial da Pequena África era marcada também pelas casas coletivas: uma história escrita nos subterrâneos, nos desvãos do tecido urbano, nas notas miúdas dos jornais. Uma saga oculta pela história oficial durante muitos anos, e que somente agora, com novas pesquisas e acervos documentais antes esquecidos, podemos vislumbrar. Um último fenômeno marca a história da Pequena África dos anos finais do século XIX: os zungus. Semelhantes aos cortiços, os zungus eram perseguidos pelas autoridades mas eram visados por serem locais clandestinos para religiões afro-brasileiras e assim caçados com o pretexto de combate ao "curandeirismo" e ao "charlatanismo", e no advento da República como coerção à "medicina proibida". Percebam que muitos brancos, inclusive estrangeiros acabam frequentando estas casas de "curandeirismo", o que demonstra o alcance da herança cultural-religiosa deixada pelos africanos na região.O tempo é implacável. No crepúsculo XIX a antes poderosa comunidade africana do Rio de Janeiro está praticamente extinta. Os filhos e netos destes pioneiros irão manter, ao seu jeito, o legado cultural, tão importante na formação da identidade de uma nação.Referências:SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Pequena África: Um portal do Atlântico. 1ª edição, CEAP, Rio de Janeiro, 2011 Foto: Gravura de Debret, chamada NEGRAS VENDEDORAS DE ANGU (1834-1839)

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