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HISTÓRIAS DA PEQUENA ÁFRICA - A Reforma Urbana de Pereira Passos

Tudo começa em 1893. Neste ano o célebre cortiço Cabeça de Porco, no final da antiga rua de Santana, canto da Barão de São Félix, é destruído em uma operação militar-policial mista de demolição e de guerra. Os moradores do gigantesco cortiço, que ficaram na rua "da amargura", subiram o morro que ficava atrás (Morro da Providência e do Valongo) e ergueram seus barracos com os restos de suas casas, que foram recolhidos após o gesto de "piedade" do prefeito Barata Ribeiro, que permitiu aos desabrigados pilharem o entulho. E isso antes da Guerra dos Canudos, que daria ao lugar seu nome mais famoso: Morro da Favela. A favela nasceu antes do nome favela, assim batizado em virtude da planta Cnidoscolus quercifolius (popularmente chamada de favela) que encobria a região. Depois veio a construção do cais do porto, entre 1904 e 1911, que destruiu quantidade incontável de trapiches e construções da região, e, talvez pior, isolou na prática a antiga zona portuária, reforçando o estigma de região atrasada, bolsão de pobreza do centro. Muitos negros viviam da ocupação de catraieiros ou do manejo das embarcações que desembarcavam as mercadorias na cidade, e precisavam passar para estes navios menores, na medida em que barcos de grande calado não podiam ancorar nos pequenos trapiches. Com a construção do cais do porto milhares perderam seus empregos, seu ganha-pão (já que muitos eram donos da própria embarcação) e tiveram que partir para funções menos rendosas, como estiva. Mesmo na estiva era difícil a partir de então conseguir trabalho já que a administração do Cais do Porto, entregue para uma empresa francesa privilegiava os imigrantes europeus e brancos no recrutamento para carregadores. Para as mulheres negras a situação não foi diferente, a antiga zona dos trapiches deixou de ser área de passagem para passageiros e mercadorias, e com isso seus clientes desapareceram. Além disso, o novo Código de Postura do prefeito Pereira Passos bania definitivamente das áreas revitalizadas - como a Avenida Central, atual Rio Branco - qualquer vendedor de rua, quitandeiro, que lembrasse a "aringa" africana dos tempos passados. Tudo isso aponta que para a população da Pequena África, a construção do Cais do Porto representou piora de suas condições de vida. Muitos jovens fugiram para o centro em busca de oportunidades, e a miséria se tornou mais aguda. Durante décadas a antiga freguesia de Santa Rita permaneceu abandonada, largada pelos poderes públicos, como uma ilha do passado, uma "mancha negra" da cidade maravilhosa (expressão dos anos 1930) e esquecida pelos cartões-postais que divulgavam pelo mundo as imagens do belo Distrito Federal. Os trabalhadores não ficaram inertes. Em 1905 é fundado o sindicato Sociedade de Resistência dos Trabalhadores em Trapiches de Café, essencialmente formada por negros, e que deu muito trabalho para os patrões e o governo. Em Junho de 1905 os trabalhadores da obra do Cais entram em greve para reivindicar melhores salários e condições de trabalho. Apesar da ameaça policial, a greve é vitoriosa. isto sem falar nas já muito comentadas Revolta da Vacina e Revolta da Chibata, que também tiveram seu lócus na zona portuária.

Referências:SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Pequena África: Um portal do Atlântico. 1ª edição, CEAP, Rio de Janeiro, 201

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