HISTÓRIAS DA PEQUENA ÁFRICA E A REPÚBLICA
Os primeiros anos após o golpe militar de 15 de Novembro foram de agitação na cidade. Para os moradores da Pequena África foram tempos de instabilidade, de incerteza. O novo regime não entrou em cena demonstrando interesse ou simpatia pela população negra do Rio. Pelo contrário, a vida sob o brasão da República foi de perseguição para os habitantes da zona portuária. Mas as mudanças estavam a caminho. Os crioulos nascidos no Brasil eram a totalidade da população negra liberta pelo 13 de maio de 1888. E da livre também. Com o fim do antigo regime monárquico os sonhos de mudanças sociais foram se dissipando. Agora a luta pela vida era ainda mais difícil, com a avalanche de imigrantes europeus chegando à cidade do Rio. Na cultura também se percebiam as mudanças. O samba, perseguido pela paranoia policial, começa a sair das sombras. Os negros brasileiros têm maior facilidade de lidar com a cultura das elites do que os africanos. Isso fica claro no depoimento de João da Baiana. Morador célebre da Pedra do Sal - onde nasceu em 1887 -, João estava cansado de perder seu pandeiro para os "meganha" da policia. Um encontro afetuoso com o poderoso senador Pinheiro Machado, e um regalo deixado para o famoso sambista: uma pequena placa de metal afixada no pandeiro deixando claro que era presente do ilustre senador da República. E pronto: nunca mais um policial terá coragem para tirar o pandeiro da mão de João. Foi mais ou menos isso que ocorreu com a cultura popular da Pequena África nos anos iniciais do século XX. Mas antes disso, as agruras sofridas pela população negra mudam de natureza. No tempo do Império eram a perseguição da polícia e a repressão às estratégias dos escravos urbanos para se manter longe do tacão senhorial e do estado. Na República as demolições e reformas urbanas propugnadas pelas elites intelectuais serão a ponta de lança para os ataques à comunidade negra.Referências:SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Pequena África: Um portal do Atlântico. 1ª edição, CEAP, Rio de Janeiro, 2011 Foto: Morro do Pinto - Augusto Malta - 1912
